Los Suenos

A arte aí em cima é da TULIPA RUIZ (http://www.flickr.com/photos/liparu/)

Hoje assisti ao documentário El Ultimo Bandoneón, uma co-produção argentina-venezoelana que conta a história do tango na argentina. Chorei umas 300 vezes. Ouvir tango para mim é sentir sempre algo muito forte, inexplicável.

Não sei o que me emocionou mais, se é o bandoneón, o violino, a dramaticidade e sensibilidade da dança ou a tradição que envolve essa música popular argentina. Os maestros velhinhos, com 80, 90 anos, um deles cego. A quantidade de vida que saía daqueles bandoneóns, a intensidade das notas, os gestos. O modo como os envolvidos falavam apaixonadamente de cada parte do instrumento. As oficinas familiares de consertos do bandoneón, onde o amor e a técnica são passados de pai para filho. (Um dia já odiei a tradição. Depois amei demais. Isso porque as tradições são muitas. Hoje valorizo quase tanto como valorizo a vida. A tradição, quando não vem para oprimir as próximas gerações é a sabedoria acumulada da humanidade.)

Em vários momentos do filme, os personagens se referiam tanto à dança quanto à música dizendo: não se trata de dançar, mas de sentir a alma.

O bandoneón só funciona com o ar dentro, como se fosse um ser humano. Ele também tem alma. E é de lá que saem os lamentos e os rasgados milongueiros que me fazem chorar sem esforço algum.
Tô dramática.
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Hoje comprei um livro de poesias da Hilda Hilst. Logo a primeira página que abri, ainda na estante da livraria, uma frase me saltou aos olhos

"Me queimo em sonhos, tocando estrelas."

Não consegui mais tirar isso da cabeça. Adoro quando as palavras me surpreendem em pequenas epifanias que fazem valer a vida inteira.

Odeio máximas, mas frases que dizem muito, em pouco, são obras de verdadeiros seres verdadeiros que sentem.