quinta-feira branca




quem somos, do que somos feitos

enquanto assistia, ficava lutando contra mim mesmo. parte de mim queria o happy end. algo bem simplista. um final que me mostrasse que os seres humanos tem salvação. de que não somos egoístas, nem falsos, nem cruéis. de que não nos aproveitamos dos outros. de que não matamos. de que não ferimos.

uma outra parte relutava. “don´t be blind. vc sabe que não existe happy end.” mas não me culpo. é difícil enxergar. é difícil aceitar.
aceitar que diante da morte, da fome, da miséria, diante do caos não existem regras. com certeza esse é o maior medo. e isso o filme passa muito bem. não vou entrar em detalhes técnicos, coisas que senti falta do filme. coisas que poderiam ter sido pensadas.

preciso falar na aflição que senti, nas diversas sensações que tive . e na minha saída do prédio da FOX Films, não conseguia enxergar direito as coisas. algo mudou, tenho certeza. talvez dure apenas algumas horas. mas me sinto estranha. uma espécie de luto epifânico, se é que isso existe. a mourning. uma ressaca.

será que vivemos a vida para aqueles momentos de ternura? quando eles todos reencontram o conforto e amor, uma casa, a chuva que caia sobre os corpos, uma boa comida. risadas. abraços. carinhos. bem-estar.

mas e todo o resto? será que a vida se prende a esses momentos? ou será que na verdade eles servem apenas como um relaxo?

resisto em ser pessimista. sempre odiei os otimistas, mas no fundo sou um deles. fico querendo ver o lado bom da vida, dia após o outro. provavelmente é só uma forma de esquecer todo o resto. esquecer o menino no farol, esquecer a guerra, a prisão de guantánamo, esquecer que um dia eu fiz alguém chorar, esquecer que sou invejosa, esquecer que sou egoísta, esquecer que nem sempre trago a felicidade aos que estão ao meu redor.

a pessoa que enxerga. ela encontra então sua razão de viver. não é preciso pensar. ela é a única que enxerga e portanto tem a sua missão definida. ela carrega o fardo, ela os guia, os alimenta, limpa, cuida.
mas, e quando eles voltarem a enxergar? o que será dela ? ela voltará a ser só mais uma.

e se o homem cego estivesse muito mais feliz assim? preferindo não enxergar, para não ter que ver tudo aquilo que ele sofreu, todas as inseguranças. assim, sem conhecer seu rosto, a menina talvez case com ele e eles sejam felizes para sempre.
ele diz "I don´t want to know how you are. I know that part of you that has no name. that´s who we really are. "

será? ou será que ele prefere viver a vida assim, sem que as pessoas saibam quem ele é, ou como é. ouvindo apenas as vozes e sentindo uns aos outros os julgamentos talvez sejam menores. ou não.

tantas coisas pensei, tantas coisas penso. olhei ao meu redor. horário do almoço. os elevadores lotados. tudo parece pequeno, forjado. resisto a dizer, mas tudo parece triste e sem significado. será que somos todos cegos?

3 comentários:

Anônimo disse...

Estranho quando entramos em contato com a nossa cegueira, não é? Quando percebemos que é mais fácil fechar os olhos, não enxergar.
Tais conflitos estão aqui sempre e, apesar da beleza com que descreveu suas sensações e fez suas associações, estão sempre por aí também, né?
Adorei a sua volta ao blog. Sua poesia faz falta.

Ana Elisa Faria disse...

Talvez a maioria de nós esteja cega. E a parte que vê, muitas vezes, não consegue sair de uma espécie de letargia. Acho eu!

Adorei, adorei!

Bem-vinda no seu espaço novamente.

beijos, Geózita.

Ciça D'Carvalho disse...

A cegueira é um estado de espírito, mais dia menos dia teremos que destampar nossos olhos para o nosso próprio infimito particular. Senào ficaremos paralizados no processo de evolução. A reflexão e a auto-análise nos ajudam na busca de nós mesmos.
Quero assistir me manda detalhes depois!
amo