Sanfoneando



Milagre em Santa Luzia, documentário sobre a sanfona em cartaz em São Paulo, Rio de Janeiro e Santos, me lembrou O Ultimo Bandoneon em vários momentos.

Isso é mérito mais da pesquisa do que propriamente do filme. As melhores partes do filme são as entrevistas com os mestres populares da música brasileira. Gente como Arlindo dos 8 Baixos, Camarão, o hilário Pinto do Acordeon. Arlindo teve diabetes e ficou cego, mas continua tocando e componto lindamente. Todo domingo, faz um forró em sua casa, no Recife. O Forró de Arlindo recebe sempre convidados, tornando-se um lugar onde qualquer um pode presenciar o que de melhor tem a musica brasileira.

O filme então sai do nordeste e viaja pelo Pantanal, Rio Grande do Sul até chegar a São Paulo, as duas São Paulo: a caipira e a contemporânea. Conheci músicos que nunca tinha ouvido falar, ritmos como o varejão, ode a tradição sulista, o chamamé dos pantaneiros, a mistura de Quartcheto, o universal de Toninho Ferragutti.

Fiquei pensando em como o Brasil (e a expressão humana, de modo geral) é emocionante. Como um mesmo instrumento, e que instrumento, consegue produzir efeitos tão adversos em uma musica, dependendo do estado de espírito, e do estado geográfico.

No nordeste, o baião e o forro, de seu Luis Gonzaga, podem ora ser tristes, melancólicos (Triste Partida, poema de Patativa do Assaré musicado por Luis Gonzaga, já traz no nome o adjetivo. No filme, Dominguinhos chora ao tocar a musica e lembrar de sua própria partida, com a família em um pau de arara em direção ao Rio de Janeiro). Mas o forró pode ser também uma alegre celebração da vida.

Vale a pena ver Milagre por vários motivos: A declaração de amor dos músicos à sanfona. De várias maneiras, de Sivuca a Arlindo dos 8 baixos. Ou do gaúcho Bagre Fagundes que diz que um homem é apenas um homem, até pegar no acordeom, uma vez com o instrumento no solo, ele cresce, imponente, como o som que sai deste que se assemelha ao pulmão, enchendo e esvaziando o ar, conforme a musica sai, as vezes melancólica, por vezes ensolarada, alegre, celebrativa, contemplativa. Para todos os momentos da vida.

No site do filme tem uma pequena sinopse dos músicos: www.milagredesantaluzia.com.br

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