Um dia




De vez em quando, a eira e a beira se perdem, os caminhos ficam um pouco confusos, as costas doem, coisas estranhas acontecem. Mas é assim também, do nada, que coisas boas acontecem. Como quando subindo de um mergulho no mar, você abre os olhos e se sente simplesmente feliz. Ou quando cortam a água da sua casa, você pega sua bolsa vermelha de bolinhas, enche a necessaire com creminhos cheirosos e vai tomar banho em outro chuveiro. Chegando lá, o chuveiro é tão gostoso. E ai, bom, dá vontade de que cortem a água todos os dias na sua casa. Tudo isso para dizer que algum dia desses abri o blog da amiga Nana, uma amiga sumida, mas que, por meio do blog dela, deixa a gente compartihar um pouquinho da vida com ela. E ai tava essa poesia da Célia Musilli, que eu não conhecia, mas que também tem um blog muito legal. Li a primeira vez e já quis saber quem era essa que conseguia, de maneira aparentemente tão fácil e espontânea, dizer tudo que tenho pensado sobre a vida. Ou que pelo menos tento, mesmo quando a eira e a beira pedem recesso. 


Quase uma oração

"Um dia a gente acorda e percebe que mudou, depois de levar muita porrada e ter os ossos moídos junto aos sonhos.
Um dia a gente acorda e percebe que nem toda mudança precisa ser amarga,
embora o que nos mova quase sempre seja a dor, esta parceira do imprevisto.
Um dia a gente acorda e descobre do lado do avesso um espaço zen, uma espécie de paz interior que nos adula e acaricia,
como se a mãe voltasse a nos pegar no colo.
Neste dia, inexplicavelmente,
decidimos que o melhor a fazer
numa manhã é plantar um girassol
só para ver, dali a um tempo,
sem angústia, dilema ou rejeição,
que a vida dança a dança dos dervixes...
e que a nossa entrega à vida
é um ritual sem hoje nem amanhã.
A felicidade pode ser o ato de movimentar -se
como os girassóis, para lá e para cá,
só pra ver onde começa e onde termina o dia...
sem pressa.
Os acontecimentos não nos pertencem."

Célia Musilli

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