Um gosto de sol



Arte de Tulipa Ruiz
Amigos.
Os dias têm passado, e o ritmo cada vez mais frenético me lota de lascas de pensamentos que não tenho tempo de desenvolver.
Fico a aguardar aquele momento em que vou poder refletir e então pensar sobre os últimos filmes que vi, coisas que pensei e senti.
Mas tem horas que a vida transborda, e tudo que nos resta é tentar qualquer espécie de comunicação, principalmente para aqueles a quem dedicamos amor, pensamentos e energias. Com quem compartilhamos sonhos e ternuras, torcidas, desejos. A frustração da não convivência acredito ser eterna. Mas talvez esta sensação venha com a possibilidade de valorizar ainda mais os momentos compartilhados. Ainda assim, sempre serei aquela que quer mais. Para mim nunca é demais.

Tudo é possível, tudo é intercambiável. A paciência e a solidão são totalmente necessárias, mas cada vez mais percebo que meu corpo ultrapassa os limites. Enquanto puder, estarei tentando, sempre, absorver o máximo de vocês, de nós, aprofundando as relações e descobrindo-nos a cada dia.

Tenho pedido força todos os dias para manter a coragem e a força. E hoje ouvi novamente ele, o Milton, e seu gosto de sol. O que desejo a mim, a vocês e a todos nós é que a gente nunca esqueça nossos sonhos sobre a mesa. E se esquecermos, que possamos lembrar de recupera-los, porque nunca é tarde para (re)começar. E, claro, os começos, recomeços, e toda a imensidão que nos apresenta todo dia, tudo isso é mais fácil se tivermos com quem compartilhar.
Falo por mim. Sem vocês não tem graça.


Um gosto de sol

(Milton Nascimento e Ronaldo Bastos)

Alguém que vi de passagem
Numa cidade estrangeira
Lembrou os sonhos que eu tinha
E esqueci sobre a mesa
Como uma pêra se esquece
Dormindo numa fruteira
Como adormece o rio
Sonhando na carne da pêra
O sol na sombra se esquece
Dormindo numa cadeira

Alguém sorriu de passagem
Numa cidade estrangeira
Lembrou o riso que eu tinha
E esqueci entre os dentes
Como uma pêra se esquece
Sonhando numa fruteira