Rua da Revolução


Só pra não deixar passar, porque as coisas de fato passam.
Há umas duas semanas assisti Revolutionary Road, o retorno de Jack e Rose, ou melhor, de Di Caprio e Kate Winslet trabalhando juntos, coisa que não faziam desde 1997 em Titanic.
O filme é dirigindo pelo marido de Kate, Sam Mendes, o mesmo de Beleza Americana.

Acho que podemos dizer que Foi Apenas um Sonho (tradução do título em português) aprofunda o que Sam Mendes já trazia em Beleza Americana, sobre a sociedade americana - pra mim, a sociedade em geral. Sobre as padronizações e o sufuco de ter que corresponder a expectativas que não são nossas.

Foi Apenas um Sonho é sobre como conciliar a vida em família com desejos e ideais que carregamos. Inspirado em livro de mesmo nome, escrito por Richard Yates em 1961, o filme conta a história do casal April e Frank Wheeler nos EUA da década de 1950.

Eles se conhecem jovens e cheios de ideais. Ela estuda para ser atriz, e ele quer viver a vida com verdade. Corta. A próxima cena que vemos é April se apresentando em uma peça de teatro amadora do bairro onde moram, no subúrbio de Connecticut. Sua atuação é sofrível e ela sabe disso. Enquanto isso, Frank trabalha entediado na mesma empresa em que seu pai trabalhou a vida inteira e da qual ele nunca se orgulhou.

A vida suburbana se apresenta, dois filhos, uma casa grande, com jardim, vizinhos, drinks no final da tarde. Um casal charmoso, do qual todos gostam. Mas April não se conforma com uma vida medíocre e quando percebe que seu sonho de se tornar uma atriz vai ficando cada vez mais longe, busca desesperada uma alternativa. Em busca de algo que motive seu marido, lembra a ele de seu velho sonho de viver em Paris, cidade que havia estado com o exército americano e que jurara retornar um dia. Propõe então que eles vendam tudo, raspem as economias e se mudem todos para a capital francesa.

E assim vivem dias de euforia, sentindo-se especiais e esperançados pela vida que os aguarda. Nesse momento, nos lembramos que estamos na década de 1950. Eis que April fica grávida. Os métodos contraceptivos ainda não eram presentes na vida dos casais. E as mulheres não tinham ainda autonomia sobre seu corpo e destino. Ao mesmo tempo, Frank recebe a proposta de ser promovido na empresa, de ter a chance de fazer uma carreira que seu pai nunca fez.

De um lado, a cultura e as convenções que mudam conforme o tempo. Do outro, o drama universal do jovem que quer romper os padrões. Do limite entre se deixar sonhar ao mesmo tempo em que as responsabilidades e a convenção social pesam a cada dia vivido. Covardia ou sensatez?

O filme mexeu muito comigo, principalmente pela questão universal que traz. Como encontrar o equilíbrio na vida a dois, na busca pelas prioridades da vida? Não é fácil, assim como não é fácil viver.

Lendo as resenhas, vi várias delas dizendo o quanto Frank é machista por desistir de ir a França por conta de um trabalho. Discordo. Discordo também que eles não se amassem. Acho que eles se amavam sim, mas nem sempre isso basta. Enfim, filme bom é aquele que te faz pensar por dias a fio. Esse fez.

Dica: Contardo Calligaris escreveu ótimos questionamentos sobre o filme, sob a perspectiva do homem. Leia aqui.

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